Tarifa de Itaipu poderia ser metade do que é

Estado | 13/05/2025
Para conseguir esse bom resultado, bastaria ao Brasil ‘jogar parado’, exigindo o cumprimento do Tratado de Itaipu
 
Enio Verri, diretor-geral de Itaipu, afirmou neste espaço que a usina binacional “funciona como uma bateria, que ajuda a compensar a variação natural existente na geração desses sistemas intermitentes (...), sem falar que Itaipu é segurança energética com tarifa barata”.

 
Verdade! Itaipu — primorosa obra de engenharia que orgulha brasileiros e paraguaios — é peça fundamental dos sistemas elétricos dos dois países. Ninguém discute isso. Porém o diretor-geral poderia ter contado que, a partir do último ano da administração Jair Bolsonaro, adentrando pela administração Lula, autoridades dos dois governos têm negociado a tarifa de Itaipu. Não precisavam negociar coisa alguma, porque o Tratado de Itaipu determina que a tarifa seja calculada mirando uma receita da empresa binacional capaz de cobrir o custo operacional e a amortização da dívida de construção da usina. Nem mais, nem menos.
 
Como a dívida de construção foi integralmente quitada em 2023, a tarifa poderia ser cerca de metade do que é, barateando a conta de luz para milhões de brasileiros. Para conseguir esse bom resultado, bastaria ao Brasil “jogar parado”, exigindo o cumprimento do Tratado de Itaipu.
 
Mas as autoridades brasileiras decidiram negociar. O resultado é que a tarifa se mantém artificialmente elevada, porque o pagamento da dívida foi substituído por “despesas socioambientais” numa escala nunca antes vista. São benfeitorias quase sempre não relacionadas às atividades da usina, sem controle externo e constitucionalmente questionáveis.
 
Brasileiros de Sul, Sudeste e Centro-Oeste pagam, embutidas em suas contas de luz, cerca de 80% dessas benfeitorias, realizadas em partes iguais nos dois países. No Brasil, quase todas se localizam no Paraná. Brasileiros pagam 80% e recebem 50%. Os paraguaios pagam 20% e recebem 50%. A julgar por esse resultado, as negociações não foram favoráveis aos brasileiros.
 
Para piorar, durante as negociações a Agência Brasileira de Informação (Abin) realizou uma operação secreta, aparentemente para conhecer as intenções de autoridades paraguaias. Ações desse tipo são realizadas por muitos países, mas ocorre grande constrangimento quando reveladas. É o que acontece no presente caso, assim como aconteceu em 2013, quando o Wikileaks revelou que a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos havia grampeado a presidente Dilma Rousseff.
 
Um agente da Abin revelou a arapongagem em depoimento à Polícia Federal (PF), numa investigação sobre tema de política interna não relacionada a Itaipu. Não se sabe o que o motivou a revelar o segredo nem o que motivou a PF a divulgar informação tão sensível, em vez de encaminhá-la para conhecimento e decisão do primeiro escalão do governo. Mas se sabe que a negociação com o Paraguai, repito, nos foi desfavorável.
 
 
 
Fonte: O Globo.com 

https://oglobo.globo.com/opiniao/artigos/coluna/2025/05/tarifa-de-itaipu-poderia-ser-metade-do-que-e.ghtml?giftId=5441d4335de8ce4&utm_source=Whatsapp&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilharmateria
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